terça-feira, 26 de agosto de 2014

Escolas públicas urbanas têm acesso universal a computadores, mas só 6% os usam em salas de aula

Dados são da pesquisa TIC Educação 2013, que traça um panorama nacional do uso da tecnologia nas escolas em áreas urbanas.


Alunos da Escola Estadual Hermínia Calda, em Caxias, usam computadores no laboratório de informática: espaço ainda concentra o uso da tecnologia nas escolas 

RIO — As escolas brasileiras — públicas e privadas — das áreas urbanas estão fazendo um uso maior de computadores e da internet em atividades pedagógicas com os alunos. No entanto, na maioria dos colégios, a aplicação dessas ferramentas ainda permanece restrita a espaços como laboratórios de informática ou até, insolitamente, apenas às salas de professores, secretaria e diretoria. Ou seja, longe das salas de aula. É o que revela a pesquisa nacional TIC Educação 2013, divulgada ontem pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI.br). Para especialistas, uma integração maior desses recursos ao principal ambiente de ensino pode beneficiar estudantes e mestres, ainda que também represente desafios.


Realizado entre setembro e dezembro do ano passado, o levantamento analisou 994 escolas de cidades das cinco regiões do país — universo superior às 856 instituições avaliadas em 2012. Para esta edição, foram entrevistados presencialmente 939 diretores, 870 coordenadores pedagógicos, 1.987 professores e 9.657 alunos, a partir de questionários estruturados.


De acordo com a pesquisa de 2013, a presença de computadores nas escolas brasileiras é praticamente universal nas áreas urbanas. Enquanto, nas instituições públicas que dispõem de computadores, as máquinas de mesa estão presentes em todas, nas particulares o índice é de 99% (enquanto isso, crescem notebooks e tablets). Quanto à disponibilidade dos equipamentos para o uso de professores com os alunos, os percentuais também são consideráveis: 76% nas unidades públicas e 85% nas privadas.



Máquinas? Tem, na sala do diretor

Entretanto, apesar da presença dos equipamentos, muitos ficam longo do alcance dos estudantes: 89% das instituições públicas com computadores os têm na sala do coordenador pedagógico ou diretor; 85%, no laboratório de informática; e somente 6%, nas salas de aula. Já nas escolas particulares, os índices são de 93%, 71% e 23%, respectivamente.


Os laboratórios de informática mantém a hegemonia absoluta no uso de tecnologia em atividades desenvolvidas pelos professores em conjunto com os alunos. Na pesquisa, 76% dos mestres de escolas públicas disseram usar as máquinas para o ensino nos espaços específicos, enquanto 46% afirmaram usar a tecnologia nas salas convencionais. Nas escolas particulares, no entanto, os mestres que aplicam as ferramentas digitais nas salas de aula chegam a 70%.


Apesar de exaltar a larga presença dos computadores e da internet nas escolas, a coordenadora da TIC Educação, Camila Garroux, diz achar importante que as novas políticas públicas passem a focar agora a integração da tecnologia às práticas pedagógicas. Esse processo, ela explica, passa por levar as tecnologias da informação ao cotidiano de professores e alunos.


— A sala de aula é o ambiente onde ocorrem o ensino e o aprendizado diário. Por isso, é importante que a tecnologia esteja ao alcance dos professores e alunos nesse espaço. No passado, os laboratórios de informática tiveram a sua importância para as políticas públicas devido ao elevado valor das máquinas — explica Camila. — No entanto, com o barateamento da tecnologia e a tendência crescente da mobilidade, é importante que esses equipamentos passem a integrar mais as práticas pedagógicas. E isso acontece, principalmente, nas salas de aula.


Coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara também afirma ver com bons olhos uma maior integração dessas ferramentas ao cotidiano de professores e alunos. No entanto, ele ressalta que, além de benefícios, a experiência também traz desafios.


— A maior integração é benéfica aos estudantes, porque as ferramentas digitais já são parte da identidade das gerações mais jovens. Para os professores, isso também é positivo, porque lhes dá uma gama de recursos mais adequados à realidade dos alunos. No entanto, não há dúvida de que se trata de um grande desafio integrar essas ferramentas ao ensino nas classes.— afirma ele. — Ainda estamos aprendendo a lidar com o fato de o aluno estar hoje conectado o tempo todo, e isso, em muitos casos, é fonte de distrações.


Velocidade da rede ainda é obstáculo

Quanto ao acesso à internet nas escolas, a TIC Educação também mostra que ele já é praticamente universal, com 95% das instituições da rede pública e 99% da rede privada conectados. A velocidade de conexão, no entanto, ainda cria um abismo entre os dois tipos de escola: enquanto 52% das públicas declararam ter conexão de só até 2Mbps (qualidade aquém do ideal), nas particulares esse percentual cai a 28%.


Apesar do predomínio da velocidade baixa, as instituições públicas registraram uma melhora na tecnologia utilizada para acessar a rede: saltou de 57% para 71%, em apenas um ano, o percentual de escolas conectadas com redes sem fio.

Oppitz Soluções Tecnológicas

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Outro destaque da pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) é o que trata dos tipos de máquina presentes nas escolas. Enquanto os computadores de mesa e portáteis registraram pouca alteração em relação ao ano anterior, os tablets saltaram de 2% para 11% nas escolas públicas — nas particulares, o índice é de 13%.

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Nesta edição, pela primeira vez desde que começou a ser realizada, em 2010, a TIC Educação incorporou novos indicadores que analisam o uso por professores dos recursos educacionais obtidos na web para as atividades com os alunos. Tanto nas escolas públicas como nas particulares, 96% deles disseram fazer uso de elementos buscados na rede para as aulas e, entre os elementos mais usados, estão imagens ou fotos, textos, questões de prova e vídeos.

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Apesar dos índices considerados positivos, os novos parâmetros também apontam para questões que podem ser melhoradas, como a utilização da internet pelos professores para a criação de conteúdos próprios para as aulas. Apenas 21% dos mestres em escolas públicas e 23% nas particulares já publicaram na rede algum conteúdo educacional que produziram para atividades com os alunos.

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Rio: R$ 17 milhões para informatizar escolas

Questionada sobre a situação das escolas estaduais no Rio de Janeiro no que toca ao uso das tecnologias de informação, a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) informou, por meio da sua assessoria de imprensa, que vem promovendo mudanças curriculares para que os recursos tecnológicos estejam cada vez mais presentes no aprendizado dos alunos. Segundo a pasta, cerca de 96% das unidades escolares contam com laboratório de informática educativa. No entanto, a secretaria não especificou quantas unidades escolares esse percentual representa.

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Já a Secretaria municipal de Educação do Rio informou que todas as 1.006 escolas da rede contam com estações de computadores ligados à internet e afirma ter investido mais de R$ 17 milhões na implantação de novas tecnologias educacionais nas suas unidades nos últimos anos.

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Acostumado à disponibilidade e ao uso diário de computadores e internet com os seus alunos, o professor de artes e teatro Carlos Marapodi diz considerar esses instrumentos poderosas ferramentas para a construção do conhecimento.

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— Ter um computador em sala otimiza o ensino, com a possibilidade de pesquisas imediatas, além de trazer ferramentas que agilizam o trabalho, como o diário digital e o acompanhamento da evolução dos alunos — diz Marapodi, que leciona no Colégio Estadual José Leite Lopes, a Escola Nave, na Tijuca, onde há um computador com projetor em cada sala de aula, além de dez laboratórios de informática, graças a um convênio entre o estado e uma empresa de telecomunicações. 


— Uma escola do século XXI tem que ter as características deste tempo. Todos os avanços precisam estar no cotidiano da sala de aula.

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Colaborou (Leonardo Vieira)

Fonte: O Globo por Thiago Jansen e Eduardo Vanini

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